O que é a displasia da anca do desenvolvimento?

A Displasia da Anca do Desenvolvimento (DDH) é uma patologia congénita que deverá ser diagnosticada o mais cedo possível após o nascimento, de forma a evitar complicações mais graves no futuro. Esta patologia, também conhecida como luxação congénita da anca, acontece quando existe malformação do acetábulo. A união entre a parte superior do fémur (cabeça do fémur) e a superfície do osso da bacia, onde este articula (acetábulo do osso ilíaco), está alterada.

Anatomia da articulação da anca

Fig. 1: Anatomia da articulação da anca

 

Se esta situação não for corrigida precocemente, o fémur irá articular de forma incorreta e terá consequências na marcha e a estabilidade corporal. A principal causa para a displasia da anca é o pouco espaço uterino, normalmente no 3º trimestre da gestação.

 

Fatores de risco que devem ser tomados em consideração:

  • bebé em apresentação pélvica, isto é, durante a gravidez, o bebé fica com o rabo ou os pés virados para a direção do parto, que poderá fazer com que exista uma extensão exagerada do joelho, causando então o desalinhamento da anca;
  • é mais frequente em meninas, devido a algumas hormonas maternas que causam o relaxamento dos ligamentos das articulações. Por norma, quando ocorre este problema, os casos resolvem-se naturalmente ao fim de 1 a 2 semanas após o nascimento;
  • quando já ocorreu displasia da anca em algum familiar de primeiro grau ou em vários familiares mais afastados;
  • gravidez de gémeos;
  • primeiro filho;
  • pouco líquido amniótico (Oligoidrâmnio).

 

Muitas vezes, os bebés com displasia da anca de desenvolvimento não apresentam logo sintomas. É muito importante que o diagnóstico seja o mais precoce possível, pois só assim se consegue garantir um tratamento completo. Por norma, ao nascimento são logo feitos testes para despistar esta instabilidade. Se não, nas consultas de rotina, ao longo do primeiro ano, o pediatra examinará as articulações da anca para confirmar ou não a presença deste problema. O diagnóstico deverá ser confirmado antes de a criança começar a andar. Caso contrário, provavelmente esta terá de passar por vários internamentos e cirurgias, ou até sequelas definitivas.

Para fazer o diagnóstico, existem vários testes/manobras. Devem ser realizados pelo pediatra, em gabinete médico, com o bebé descontraído. Nenhum destes testes provoca dor ou desconforto ao bebé, mas, obviamente, se estiver impaciente, poderá chorar.

Um indicador de displasia tardio é o atraso no início da marcha. Ou seja, é muito provável que uma criança com Displasia da Anca do Desenvolvimento não tratada, comece a andar tardiamente, mas se só for detetada nessa altura já será mais complicada de tratar. Se a displasia for unilateral, a criança terá a tendência de cair para esse lado quando tenta caminhar. Se for bilateral teremos uma marcha com lordose acentuada (barriga para a frente e curvatura da coluna lombar acentuada; “marcha de pato”). Com o passar do tempo, a marcha ficará cada vez mais complicada, fazendo com que a criança perca todo o equilíbrio. Daí a importância do diagnóstico precoce.

 

 

Tratamento

Por norma, quando o diagnóstico é feito à nascença, ou antes das duas semanas, o pediatra decide aguardar algum tempo para ver a evolução da situação. A maioria das ancas instáveis nos recém-nascidos, estabilizam, por si só, espontaneamente, com o desenvolvimento natural do acetábulo e cabeça do fémur. Se o problema não se resolver naturalmente, terá que se utilizar um arnês específico (ou Tala Splint de Anca) para manter a anca do bebé fletida, evitando o seu deslocamento, permitindo, assim, que os ossos cresçam na posição correta. Este tipo de tratamento tem a duração de 2 a 3 meses e uma eficácia de 95%.

 

Se o diagnóstico for realizado mais tarde (depois dos 6 meses), para fazer o tratamento, poderá ser necessário a cirurgia para posicionar a cabeça do fémur no sítio correto e a posterior utilização de um gesso de abdução durante 3 a 4 meses após a cirurgia.

 

Nos casos mais comuns, em que o diagnóstico é feito precocemente, e quando não se resolve naturalmente, a utilização dos arneses é muito comum e tem resultados muito satisfatórios, impedindo assim, que no futuro, a criança venha a ter problemas a nível da marcha e outros problemas maiores, como dores, assimetrias ou artrose articular da anca.

Em qualquer uma das situações, a Fisioterapia é preponderante, quer a nível estrutural com funcional, uma vez que o bebé com Displasia da Anca do Desenvolvimento necessita de trabalho/estimulação específica para compensar o tempo de imobilização.

Por tudo isto, é importante relembrar que esta patologia inicialmente tem poucos ou nenhuns sintomas visíveis e que os pais e o pediatra têm um papel muito importante no diagnóstico da mesma.

Fonte

 

Especialista em Fisioterapia Pediátrica

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